2009/03/31

Um imenso Portugal

Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da
sífilis, é claro)*
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."

Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

2009/03/28

De cima para baixo

Sinto-o claramente, sinto-o bem. Um frio que me desliza pela espinha, tremor de pavor, e um sabor amargo na língua. Orelhas quentes, comichão no queixo e deixo que os meus dedos o amansem. Com um telintar rítmico de dentes, revejo as palavras no joelho da minha memória e solto o improviso. Quando falo, já não sou eu, sou outro. Outro qualquer que tem coisas que eu não tenho e, ali do lado, admiro-o aspirando um dia ser como ele.

Às vezes não. Ele vem e vai, e às vezes somos irmãos, outras somos desconhecidos, com o passar do tempo.

2009/03/23

Atira-te ao mar

Jovem! Ultimamente tens feito cenas que ninguém percebe? Farto de meter o pé na poça mesmo quando não chove há meses? Não podes mais com a ineficiência da tua maneira de ser?

Então atira-te ao mar!

O instituto hidrográfico agora oferece previsão das marés, organizado por zona, para que não te precises de preocupar com mais nenhuma tentativa falhada:
http://www.hidrografico.pt/previsao-mares.php
Se não te quiseres culpar, diz que te empurraram. Na pior das hipóteses, afogas-te e não tens que pensar mais nisso. Na melhor, levas algo até ao fim e sobrevives para contar a história.

Timoteo, o peixe

Timoteo era um peixe como outro qualquer.

Olhos esbugalhados, com sentido de orientação no imenso oceano que era o seu mundo. No fundo do grande azul, deixava-se levar pelas correntes, comia o que encontrava, preferia a pressão da profundidade que era a sua. Preferia não andar em cardume, era um peixe aventureiro. Tinha escamas prateadas, detectava sempre a isca suspeita dos pescadores de dedo na linha. Todos os dias Timoteo retirava-se para um buraco diferente, para descansar um pouco no seu movimento de equilibrio, sem fechar os olhos, mas deixando o seu pensamento fugir dali.

Timoteo sonhava ser um pássaro. Poucos são os animais da cadeia alimentar que sonham ser o seu terrivel inimigo, mas era um sentimento que não conseguia contrariar. Olhava, por vezes, os felizes animais que esvoaçavam em berros insistentes à procura de uma refeição. Mas para Timoteo, o que era realmente persuasivo era a maneira como viam tudo dali de cima. Ele sonhava ver tudo também, por isso vasculhava a eternidade das marés, procurando um milagre semelhante aos mitos marítimos da Pequena Sereia e do Nemo.

Sem som, a tranquilidade do mar não o deixava descansar. Timoteo passou toda a vida sem descansar a procurar o seu cálice. Ninguém sentirá a falta dele. Excepto eu.

2009/03/22

Liberdade para ser criança


10:15 da manhã. Fodasse! O meu pai havia desligado novamente o meu despertador, convencido que o meu grunhido em transe de sono queria dizer: "Sim, estou acordado, vou-me já levantar estou só a tentar abrir ou olhos". Haviam 2 meses que o meu irmão me tinha avisado: "Dia 22 de Março é o concerto do Rafael! 10:30 na Casa da Música"

15 minutos para fazer o que demoraria 45 num dia normal e estava na Casa da Música. O que experienciei na hora seguinte foi lindo. Imaginei o "Concerto para bebés", como algo cheio de corzinhas básica, pessoas vestidas de coelhinho, a cantar canções de comer a papa. O que vi no entanto, foi um conjunto de profissionais que pareciam entender as crianças melhor do que os adultos. Ali, pais avós e tios eram os intrusos. Fomos avisados no início para não interferir na interacção natural das crianças com a música. Nunca forçar os bebés a "bater palminhas" ou explicar por palavras o que estavam a ver. Deixá-los à solta, e compreender o concerto pelos olhos de uma criança, e não de um adulto. Enquanto os músicos se faziam acompanhar por instrumentos como violencelos, didgeridoos, birimbaus, saxofones...os miúdos reagiam com palrear num diálogo entre a música e o mais puro e espontâneo do ser humano em versão mini. Quando se pode pensar num ambiente em que os miudos se sentam no colo dos pais quietinhos, eles andam pelo palco, tocam nos instrumentos, e os que conseguem dançam sem perturbar os músicos. A cara de felicidade naqueles pequenos pilantras penso que moveria qualquer um.

Os meus sinceros parabéns à iniciativa e fica aí o link:
http://www.concertosparabebes.com/

2009/03/21

A educação, a Inovação e o Equilíbrio das Coisas

Inspirado por uma conferência a que assisti na sessão de apresentação da Moving Cause, dei por mim a pensar nas coisas que as pessoas sabem. A educação e experiência profissional dá às pessoas capacidades e experiências que as especializam, de certa forma, num determinado tema. Dividimo-nos em especialistas, de informática, psicologia, medicina, etc. e apoiamo-nos uns nos outros como sociedade para responder a todos os desafios e necessidades. A mim sempre me fez confusão a noção da pessoa especializada, que sabe mais disto do que qualquer outra coisa.

A human being should be able to change a diaper, plan an invasion, butcher a hog, conn a ship, design a building, write a sonnet, balance accounts, build a wall, set a bone, comfort the dying, take orders, give orders, cooperate, act alone, solve equations, analyze a new problem, pitch manure, program a computer, cook a tasty meal, fight efficiently, die gallantly. Specialization is for insects.

-Robert A. Heinlein


Acho que muito cedo na vida, escolhemos a especialização a tomar, ainda sem grande compreensão sobre nós mesmos nem da maneira como ela pode contribuir para coisa que seja, sem ser o "emprego" que nos sustenta. Com isto não quero dizer que se deva adiar a decisão. Por outro lado, talvez seja necessário na fase de educação multi-disciplinar algo que nos ensine a interrogarmo-nos sobre nós mesmos, um ensino exploratório e não explicativo. Tenho para mim que a noção da palavra "Inovação" não é criar alguma coisa nova, mas sim re-inventar algo que existe. É esta capacidade que acho que nos falta, como pessoas, na educação que recebemos, em relação a nós mesmos. Por um lado, tornar-nos-iamos mais versáteis e dinâmicos, por outro teriamos armas para combater a incerteza do futuro e a vertigem da rotina que penso que nos é comum. Re-inventar a nossa pessoa é sempre um desafio e sempre uma conquista na minha opinião.



Por último, entra o meu lado espiritual. Considero-me agnóstico, pelo menos em relação à noção tradicional de Deus. No entanto, acredito no equilíbrio das coisas. Entre as coisas estão as pessoas, e rejeito a ideia de duas pessoas iguais. A ideia que tenho é que cada um de nós, ao seguir o seu caminho, ao mudar de rumo, ao fazer uma decisão será compensado naturalmente por outras decisões de outras pessoas, que influenciadas pelo desiquilibro, preenchem o espaço em falta. Acredito que as capacidades e gosto inatos às pessoas estão igualmente distribuídos, e que todos podiamos estar a fazer algo que nos completa, não necessáriamente na vida profissional, mas também na vida pessoal. Com isto só quero dizer que, a minha crença é que não há perigo de toda a gente fazer o mesmo ao mudar para o que lhe é natural porque a vida tal como ela é faz com que sejamos naturalmente um todo.

Mais uma vez, sem grande ideia do que isto possa ajudar, deixo-vos com uma teoria com três vértices, que promete ser apenas mais um post deste monte de letras que é o meu blog. No entanto, deixo alguns "porque não"s que podem fazer algum sentido (ou não) para o que acabei de pôr na mesa virtual:
- Porque não ter no ensino básico uma disciplina e acompanhamento que permita à pessoa ter uma melhor noção do seu perfil?
- Porque não uma maior número de workshops melhor divulgados, introduzindo uma área ou um conceito?
- Porque não existe em Portugal a noção de "Gap year", onde a pessoa antes de escolher o que fazer da vida, tira um ano sabático para viajar e se descobrir?
- Porque não tornar a reforma numa fase da vida de empreendedorismo?
- Porque não mais iniciativas como o TED.com?

2009/03/18

A Rubix Life

Simultâneamente um puzzle e um labirinto, o cubo mágico em muito se assemelha à vida, como eu a vejo. Verdade que nunca me dei ao trabalho de ver os tutoriais para resolver o Rubix sem perceber o que se está a fazer, mas também na vida por vezes tentamos seguir algoritmos definidos por outros antes de nós, que acreditamos serem suficientes para alinhar todas as cores.

A meu ver, na vida somos todos leigos, e havemos e chegar ao fim sem perceber nada disto. Tentamos por vezes alinhar a mesma cor, esquecendo que para isso todas as outras estão a ficar cada vez mais desalinhadas...Quando as coisas parecem correr bem, temos que dar uns passos atrás para nos desenvencilhar-mos de um beco sem saída.

Se não nos guiarmos por algoritmos, vamos pelas crenças, pelo que faz sentido. Tendemos a começar pelo que já está mais ou menos alinhado, encaixamos as cores conforme nos parece ser um próximo objectivo do cubo: uma face alinhada. Mesmo sabendo que não quer dizer absolutamente nada. Existem infinitas possibilidades de resolver um cubo mágico, tendo em conta a repetição de movimentos. Embora não nos apercebamos, durante a resolução é mais que provável que voltemos vezes sem conta à mesma ordem onde estivemos algumas rotações atrás..

Talvez a analogia mais engraçada seja na fase avançada (ou pelo menos aparentemente) do cubo. Já temos tantas corzinhas a bater certo...que cada movimento que fazemos temos medo de destruir o castelinho perfeito. A vertigem do risco tal e qual eu a vejo na minha vida e na dos outros..

Agora pensemos assim: As faces devidamente alinhadas são exactamente tão únicas como qualquer outra combinação do cubo mágico, apenas estéticamente mais apelativas. Enquanto o cubo mágico tem esse objectivo bem definido, na vida não é bem assim. Portanto, todas as rotações são únicas à sua maneira, e a melhor maneira de ficar encravado é achar que existe claramente um objectivo no fim do jogo. O jogo não tem fim....ainda bem.

Digo eu.

2009/03/16

Num passado longínquo

Corria como se não houvesse amanhã...já nem me lembro o que tinha feito, mas nada de bom certamente. Ouvia o senhor Amândio ao longe a ressabiar e maldizer as travessuras destes jovens de hoje em dia, que já não têm respeito por ninguém. Escondido debaixo das escadas, a comer as gomas da "casinha". Já passava da hora de ir para o "estudo", mas cá fora era bem mais divertido. Já quase não havia ninguém, tinham todos sido feitos prisioneiros de guerra. Todos menos eu e uns quantos que tinha conseguido recrutar.

Passavam-se horas, entre a "quinta" e os recreios de areia do Luso-Francês. Ora nos baloiços de pneus, ora nos escorregas já pequenos demais para nós. Eramos rebeldes. Supertramps do ensino privado. Não davamos ouvidos a ninguém, e insistiamos em fazer exactamente o oposto do que era suposto. Que gosto.
As freiras eram o inimigo, as "empregadas" não eram más, mas ao cumprir o seu dever metiam-se no nosso caminho. E o nosso caminho tinha que ser seguido. Os filmes que me passavam na cabeça em miúdo eram dignos de Óscares nos dias que correm. Era o James Bond do convento das freiras, o Indiana Jones da "quinta", o Figo do "campo de cimento" e o Lawrence do "recreio dos cavalinhos".

Só agora aprecio todas estas palavras que tive de envolver em aspas. O Luso-francês tinha de facto, a sua linguagem própria.

É agora com nostalgia, confesso, que recordo os meus tempos naquele colégio. A vida era simples, e nós eramos donos e senhores do nosso Reino. Até que...a certa altura, uma voz enfadonha, sempre igual, da menina "Sara" se fazia ouvir em todo o lado, vinda dos microfones:

- Miguel Armando........................ao átrio.

Era altura de bater retirada.

2009/03/14

Num mundo cor-de-laranja

A vida era gira no mundo cor-de-laranja. Haviam cenouras, tangerinas, laranjas, clementinas. Os carros eram laranjas, e deitavam fumo alaranjado. Altos prédios cor-de-laranja arranhavam o céu laranja, de nuvens laranjas que por sua vez deixavam imaginar sonhos também eles cor-de-laranja. A moda era sempre o laranja, todas as pessoas o vestiam, ninguém conhecia mais nada. Havia vários tons de laranja, claro, mas sempre em volta daquele tonalidade que faz abrir o apetite e dava cor à alegria dos habitantes deste mundo especial.

Eu era um dos habitantes do mundo cor-de-laranja, noutra encarnação. Ainda tenho flashes desse tempo mas não consigo enquadrar o que sinto neste mundo. Para este mundo, esta é uma a cor demasiado....bem, demasiado laranja. O céu aqui é azul, tal como o mar, e as plantas são verdes em baixo e de todas as cores em cima. As modas mudam as vontades, e até o céu muda a cor conforme a sua disposição. É lindo, mas confuso. Tudo parece encaixar perfeitamente na sua diversidade de cores, mas falta cor-de-laranja. Eu vou-me tentando adaptar, mas de vez em quando volto lá volta às minhas origens e ponho a minha camisa cor-de-laranja.

Se eu não tiver orgulho das minhas raízes, quem terá?

Talvez seja por isto que gosto de uma bela tarde de pôr do sol.

2009/03/04

Querido, mudei a casa

Sim, para que fique bem claro, o título deste post é, de facto, "Querido, mudei a casa". E sim, refiro-me ao programa que passa frequentemente na Sic Mulher.

Eu sofro de insónias. Às tantas estou a dizer isto à toa, porque deriva mais de falta de disciplina à hora de me deitar do que numa perturbação médica do sono. De qualquer maneira, quando passo horas a rebolar na cama sem convencer o João Pestana a vir, dirijo-me à sala de estar onde está a minha mãe invariavelmente no sofá, invariavelmente a fazer renda, e invariavelmente a ver o "Querido, mudei a casa" que ocupa o lugar das Televendas nesse grande canal que é a Sic Mulher. Eu e o meu chá de camomila juntamo-nos a ela, nem que por breves minutos.

O que me desperta a curiosidade neste programa é o formato. Como qualquer programa de televisão, o que motiva a sua existência é o facto de as pessoas o verem assíduamente. Daí vêm publicidade e patrocínios, que permitem ao programa continuar a sua existência por mais de 8 anos! (informação dada pela pela minha mãe). A diferênça, no meu ponto de vista está na continuidade do trabalho que é feito. Para além do valor para o espectador que é efémero, existe o valor para as empresas de publicidade (também efémero) e tudo isso é normal. O que não é normal é o valor que este programa traz aos destinatários das decorações. São pessoas que vêm a sua casa decorada ou remodelada, em troca de uma simples candidatura e umas entrevistas mal feitas, sem grande exposição ou ridicularização. Ou seja, o simples facto de as pessoas gostarem de ver algo a ser remodelado, motiva uma ajuda gratuita a quem precisa. A pergunta que advém directamente daqui é, na minha opinião, que mais se poderia fazer neste formato? Quem mais se poderia ajudar, com o patrocínio indirecto do interesse dos espectadores e do poder de divulgação da televisão? E ponho também a pergunta: Será que podemos falar de um espectador socialmente responsável? Ou seja, será que uma das motivações das pessoas para verem este programa é o facto de saberem que ajuda quem precisa?

Ficam as perguntas (sintam-se à vontade para responder), e o meu louvor a uma programa que apesar se seguir a ideia de "reality show", consegue dar um verdadeiro twist à ideia de uma forma que considero muito positiva. Aliás, na data presente, o que me motivou a escrever este post foi uma edição do programa que consistiu numa intervenção na Casa do Gaiato. Deveras positivo.

Com uma apresentadora terrível, edições exageradamente frequentes, o "Querido, mudei a casa" marcou pontos na caderneta do Carneiro.
Parabéns Queridos! (isto era escusado)

Sem corpo visível

Um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro...
Com os olhos nos olhos, mas a olhar para o chão, dançavam em círculos sobre si mesmos, sem saber o que estavam a fazer mas sabendo que era aquilo que queriam estar a fazer. Foi assim que começou...De um canto longínquo da sala, ele olhou e ela respondeu. O rapaz ganhou a coragem para andar meio caminho, a magia fez o resto. Deram por si, e a música mudou daquele "Pop" que a gente canta mais do que dança, para um slowdance ao qual se viram impedidos de fugir. Tímidamente, ele pôs a mão na anca da menina, ela no peito do menino. Pela primeira vez olharam-se, frágeis e inseguros. Sem uma palavra, dançaram ao ritmo da rotação da terra. Para ele, a sensibilidade de todo um corpo estava agora na sua mão. Para ela, o perfume que ele usava lembrava-lhe o aftershave do pai. Era uma boa sensação para ambos.

Anos passados, discussões, amores, conflítuos, dias, anos, trovoadas, lesões, recuperações, memórias, canções, filhos, uma casa e meia vida. Mas quando dançam juntos, a palma da mão volta a ficar suada e todo o ruído do mundo se apaga.

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Dancemos no Mundo - Sérgio Godinho

2009/03/03

Os Deuses devem estar loucos........

......pensei eu, deparado com aquele cenário horrendo. Haviam passadas 2 horas que estava a queimar as últimas horas do dia em frente á televisão a meio gás, quando a Natureza chamou e tive que ir fazer o que ninguém pode fazer por mim. Ao virar a esquina para a recta final antes do quarto de banho, sinto uma humidade que não devia ali estar. Em volta dos meus pés e em quatro compartimentos da minha casa, 1 centímetro de água. Papeis que estavam no chão agora boiavam, os insectos que moravam no subsolo da minha cama agora afogados, os inúmeros fios que ligam o meu computador e toda a tecnologia que governa o meu quarto agora ameçados pelo que prometia tornar-se um tsunami em breve, não fosse a minha corajosa intervenção.

Fui confrontado com diferentes sentimentos, que reduziam a minha escolha sobre o que fazer em 3 opções:

1. Fugir dali e nunca mais voltar àquela casa,
2. Voltar ao sofá, acompanhado por um gelado e umas bolachinhas, e chorar a desgraça que me tinha acontecido até que a àgua eventualmente me afogasse também,
3. Manter a minha pele em contacto com a àgua, na esperança de ser eletrocutado, e sair deste filme.

Ainda em indecisão, fui interrompido por alguém que me disse: "Olha, e se limpássemos isto?". Normalmente esta pessoa só diz asneiras....Desta vez fiquei na dúvida: Parecia uma sugestão razoável e a verdade é que nunca pûs essa questão porque não sabia ser possível. Pensava que uma casa inundada, era para deitar fora e comprar outra. Resolvi experimentar...

Agora imagine-se: Eu, gente de boa família, de joelhos, mangas arregaçadas, durantes HORAS no seguinte algoritmo:
1. Molha o paninho
2. Torce o paninho no baldinho
3. Volta ao passo 1

Diga-se que a minha vontade era de escrever uma Epopeia sobre esta aventura, mas o tempo e as circustâncias não mo permitem. Todo este tempo, tive a ajuda duma moçoila que por um lado me motivou a não escolher nenhuma das minhas opções iniciais, por outro lembrava-me constantemente da figura ridícula que estava a fazer. No fim, ligaram-se os aquecedores, secadores e outros aparelhos eletricos acabadores em "ores" e foi-se ao merecido descanso. Mais uma vitória àrdua, suada, manchada de querer por um lado e humilhação pelo outro.

Mais tarde, viram os picheleiros. 15 minutos , 80 euros. "Ah, foi a bóia, e tal...".Parece fácil.
No fim das contas, só fica a pergunta: Porquê eu?