2009/03/28

De cima para baixo

Sinto-o claramente, sinto-o bem. Um frio que me desliza pela espinha, tremor de pavor, e um sabor amargo na língua. Orelhas quentes, comichão no queixo e deixo que os meus dedos o amansem. Com um telintar rítmico de dentes, revejo as palavras no joelho da minha memória e solto o improviso. Quando falo, já não sou eu, sou outro. Outro qualquer que tem coisas que eu não tenho e, ali do lado, admiro-o aspirando um dia ser como ele.

Às vezes não. Ele vem e vai, e às vezes somos irmãos, outras somos desconhecidos, com o passar do tempo.

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