2009/03/23

Timoteo, o peixe

Timoteo era um peixe como outro qualquer.

Olhos esbugalhados, com sentido de orientação no imenso oceano que era o seu mundo. No fundo do grande azul, deixava-se levar pelas correntes, comia o que encontrava, preferia a pressão da profundidade que era a sua. Preferia não andar em cardume, era um peixe aventureiro. Tinha escamas prateadas, detectava sempre a isca suspeita dos pescadores de dedo na linha. Todos os dias Timoteo retirava-se para um buraco diferente, para descansar um pouco no seu movimento de equilibrio, sem fechar os olhos, mas deixando o seu pensamento fugir dali.

Timoteo sonhava ser um pássaro. Poucos são os animais da cadeia alimentar que sonham ser o seu terrivel inimigo, mas era um sentimento que não conseguia contrariar. Olhava, por vezes, os felizes animais que esvoaçavam em berros insistentes à procura de uma refeição. Mas para Timoteo, o que era realmente persuasivo era a maneira como viam tudo dali de cima. Ele sonhava ver tudo também, por isso vasculhava a eternidade das marés, procurando um milagre semelhante aos mitos marítimos da Pequena Sereia e do Nemo.

Sem som, a tranquilidade do mar não o deixava descansar. Timoteo passou toda a vida sem descansar a procurar o seu cálice. Ninguém sentirá a falta dele. Excepto eu.

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