2008/11/29

O quilómetro


Aquele quilómetro...Começar é dificil. Mas quando a areia começa a envolver os pés, o vento da minha corrida a tirar o cabelo dos olhos, a maresia a fazer parte dos meus pulmões, a respiração sincroniza com os meus passos...Sinto que não quero parar.
Num contexto paradisíaco, sinto o meu corpo a aquecer, a minha cabeça a esfriar, as gaivotas a puxar por mim. Corro até á exaustão. Corro até os meus poros expelirem todo o suor de stress e acontecimentos acumulados para a superfície da minha pele.
Depois de aproximadamente meia hora, estou preparado para receber a minha recompensa. Mergulho no mar frio e revolto, ainda em corrida e delicio-me com o sol a pôr-se como que a despedir-se de mim. É bom. Tenho saudades.

Nunca mais é Verão.

2008/11/25

O Momento

Do quente conforto do escuro veio um ruído, um frio, de uns pés que já enregelavam à horas mas só agora acordaram, e um raio de luz que lhe furou a retina acordando meia dúzia de neurónios. Usou-os para insultar a temperatura maldita e amaldiçoar as horas do sono que passam sem satisfazer. Depois de um banho mal tomado, meia penteadela no cabelo e ainda de olhos entreabertos, saiu de casa limpando com a manga do casaco o café que ainda tardava a fazer efeito. Passou a mão, ainda fria pela nuca, como que á procura de um conforto. Cá fora, foi cego por uma fachada de luz.....

- "Fodasse....." - , disse entre a porta de casa e a do carro.

À medida que ia guiando o carro com os joelhos e procurando o seu primeiro cigarro do dia no porta-luvas, aquela luz apaziguou, animando um pouco o seu espiríto e dando espaço para as palpebras conquistarem mais uns milímetros. Uma longa fila de sonâmbulos ia-se empurrando antes do semáforo. Ele conhecia aquela recta. Demorava aproximadamente 5 vermelhos. Tentou com uma pinceladas ao de leve mentalmente planear o dia que aproximava. Olhou para o retrovisor, como que à procura da coragem. Foi interrompido pelo verde.

- "Então? Anda lá!" - buzinou

Escolheu o lugar menos impróprio para estacionar, bateu a porta do carro com convicção, estalou o pescoço com dois gestos secos, lançando os ombros para trás e procurou o número 67. Duas portas abaixo da porta azul, e como lhe tinham dito, mesmo em frente àquele cinema conhecido.
Colocou a chave na fechadura, inspirou antes de a rodar, como que à procura de uma certeza.

- "Vamos...tu consegues...já fizeste isto quantas vezes?" - assegurou à maçaneta.

O sino tocou. O dia chegou. Era agora ou nunca.

2008/11/24

Menino de Ouro

R.

Ainda não te levantas, mas já vês por cima do muro
ainda não falas, já fazes sentido
ainda sem dentes, tens o sorriso mais lindo
com esse tamanho, já és o maior

Que te deixem jogar, menino
que sejas tudo o que haja para ser
que digas tudo o que há para dizer
desmarca-te e levanta o braço

no teu primeiro passo
na tua primeira palavra
no teu primeiro livro
com os teus primeiros amigos

Conta as tuas histórias
murmura a tua canção
ri-te do que fazes
agora e sempre
e sabe que esta vida só se vive uma vez.

O Mundo é teu
e isto ainda agora começou

2008/11/20

Bicho malvado


Acordei com uma fome desconcertante...Será fome? Fome de quê? Chocapic? Fome de água? De conhecimento? Talvez seja fome de nicotina...Ahh, tenho fome demais! Ou será que tenho fome de mais? Ou de menos? Aliás, será que esta fome é sequer minha? Se fosse minha, não seria lógico que eu soubesse como apaziguá-la?

Estou atrasado para as aulas...Para já remenda-se, mas aqui havemos de voltar.

Venha o Diabo e escolha


Polegares para cima! Portugal perdeu mas o Brasil ganhou, sofremos 6 mas marcamos 2. Levamos um baile mas era amigável. E nós gostamos de bailaricos, somos conhecidos por isso. E somos amigáveis.

Adoro Portugal, estou apaixonado pelo conceito, a sério que estou. O Zé não escolheu ser português, foi o país que o escolheu. Dizem que a vida é uma sucessão de escolhas, o que dizer então da primeira escolha delas todas? Qual foi a primeira escolha do Zé?

Se o que nos define são as escolhas que fazemos, e se fazemos as escolhas baseados no que somos, não será cada escolha em grande parte uma consequência das anteriores? O que dizer agora da primeira escolha de todas, seja ela qual for? Que andaste tu a fazer, Zé?

O Zé não sabe qual foi a sua primeira escolha. Nem eu. Porque não interessa...O importante é o lado direito da equação, o que veio a acontecer mediante o que havia para acontecer. O grande talento de nós pessoas humildes é o espírito de auto-crítica. O à vontade com que nos criticamos e olhamos para a vida como algo que tem que acontecer. Boa Zé! Mostraste que és um valente membro da orgulhosa infantaria do Quinto Império. Tens o espírito de quem quer viver e não mostrar que viveu. Sabes que podes mentir a todos menos a ti próprio e que a tua vida é o conjunto de todas as tuas memórias e dos momentos que partilhaste com quem sabe quem tu és.

E o maravilhoso é que essa vida foi, na mesma, um conjunto de todas as tuas escolhas.
Mas ainda não acabou....E agora...como é, Zé?

2008/11/19

Entre o Snooze e o Fazer


Pergunto-me porque é que nunca posso pôr o despertador para a hora que quero acordar...Se tenho que estar nalgum sítio ás 9:30, ponho o despertador para as 8:00. Feitas as contas, são 30 minutos para me arranjar (incluindo banho, vestir, ingerir o Chocapic á força), e 60 minutos para fazer aquela dança do acorda e não acorda..Aquele botão maldito, em que carrego por instinto. Parece-me normal que a resistência a acordar sugira sentimentos de "só mais um bocadinho", "está-se tão bem aqui", "está frio desse lado" , "já vai, já vai..."
Preciso de um despertador que me acorde, me tire os cobertores e me diga, coerentemente: "Jovem, o melhor é levantares-te para comeres o teu Chocapic com calma. Não podemos ficar nisto a manhã toda.."

snooze (snõõz) intr.v. snoozed, snooz·ing, snooz·es To take a light nap; doze.

Também não achava correcto a inexistência desse botão. O "agora ou nunca" do acordar..."Ou te levantas ou eu calo-me de vez e chegas atrasado onde tens que chegar". Prefiro o alarme chato do que o alarme impaciente. É o alarme que nos irrita mas que se preocupa connosco.

Obrigado Alarme. Obrigado Snooze.

Queixo-me sempre de falta de tempo...até para dormir.

2008/11/18

A pedra do canto


Que dia improdutivo...Um dia em frente ao computador, numa sala com 3 companheiros que trabalham furiosamente, discutem ideias, falam de prazos.. Pergunto-me como é possível..passar o dia todo a ler noticias, verificar repetidamente o já verificado e-mail, sem fazer a ponta dum chavo. Ás vezes uns rasgos de produtividade, um pegar na caneta, um abrir do caderno...mas nada com principio meio e fim...Até a música do meu MP3 já se repete.
Já me tinham acontecido manhãs improdutivas, horas sem fazer nada. Mas um dia inteiro, penso que é inédito. Daqui a meia hora vou sair do escritório sem ter feito oficialmente nada de produtivo. Resolvi contrariar esta tendência e criar este blog. O que espero é que sirva de alternativa a ir fumar um cigarro. Um "pensativo cigarro", acho que já o disse Eça, vai ser cada um destes posts. A ver...Se pensarmos que estava a fumar um maço por dia..