2009/03/16

Num passado longínquo

Corria como se não houvesse amanhã...já nem me lembro o que tinha feito, mas nada de bom certamente. Ouvia o senhor Amândio ao longe a ressabiar e maldizer as travessuras destes jovens de hoje em dia, que já não têm respeito por ninguém. Escondido debaixo das escadas, a comer as gomas da "casinha". Já passava da hora de ir para o "estudo", mas cá fora era bem mais divertido. Já quase não havia ninguém, tinham todos sido feitos prisioneiros de guerra. Todos menos eu e uns quantos que tinha conseguido recrutar.

Passavam-se horas, entre a "quinta" e os recreios de areia do Luso-Francês. Ora nos baloiços de pneus, ora nos escorregas já pequenos demais para nós. Eramos rebeldes. Supertramps do ensino privado. Não davamos ouvidos a ninguém, e insistiamos em fazer exactamente o oposto do que era suposto. Que gosto.
As freiras eram o inimigo, as "empregadas" não eram más, mas ao cumprir o seu dever metiam-se no nosso caminho. E o nosso caminho tinha que ser seguido. Os filmes que me passavam na cabeça em miúdo eram dignos de Óscares nos dias que correm. Era o James Bond do convento das freiras, o Indiana Jones da "quinta", o Figo do "campo de cimento" e o Lawrence do "recreio dos cavalinhos".

Só agora aprecio todas estas palavras que tive de envolver em aspas. O Luso-francês tinha de facto, a sua linguagem própria.

É agora com nostalgia, confesso, que recordo os meus tempos naquele colégio. A vida era simples, e nós eramos donos e senhores do nosso Reino. Até que...a certa altura, uma voz enfadonha, sempre igual, da menina "Sara" se fazia ouvir em todo o lado, vinda dos microfones:

- Miguel Armando........................ao átrio.

Era altura de bater retirada.

3 comments:

Miguel said...

"Linguagem própria": nem mais, tudo palpitado assim com uma doçura própria, da ilha que é o Luso. Não havia bar, era a "casinha", havia uma "quinta" (qual escola tem "quinta" como aquela?), enfim.

Miguel Carneiro said...

Certamente...Repare-se que deixei de fora termos também consagrados como:
A "Portaria" - mítica
O "Senhor Mário" - mítico
O "Pavilhão" - de pedra com grades à porta
A "Paula" e a "Lena" - Essas grandes papelarias
A "Ma mère"

E outras mais...que agora me fogem, mas são certamente tão ou mais relevantes.

Miguel.....Barez?

Inês Dias de Carvalho said...

denominador comum: gomas.

aparentemente fazem mesmo parte do crescimento... seja na casinha ou no luky luke!

cada um com a sua cara de super mcmenú a deliciar as mesmas gomas. somos muito pouco originais.:p