2009/03/04

Querido, mudei a casa

Sim, para que fique bem claro, o título deste post é, de facto, "Querido, mudei a casa". E sim, refiro-me ao programa que passa frequentemente na Sic Mulher.

Eu sofro de insónias. Às tantas estou a dizer isto à toa, porque deriva mais de falta de disciplina à hora de me deitar do que numa perturbação médica do sono. De qualquer maneira, quando passo horas a rebolar na cama sem convencer o João Pestana a vir, dirijo-me à sala de estar onde está a minha mãe invariavelmente no sofá, invariavelmente a fazer renda, e invariavelmente a ver o "Querido, mudei a casa" que ocupa o lugar das Televendas nesse grande canal que é a Sic Mulher. Eu e o meu chá de camomila juntamo-nos a ela, nem que por breves minutos.

O que me desperta a curiosidade neste programa é o formato. Como qualquer programa de televisão, o que motiva a sua existência é o facto de as pessoas o verem assíduamente. Daí vêm publicidade e patrocínios, que permitem ao programa continuar a sua existência por mais de 8 anos! (informação dada pela pela minha mãe). A diferênça, no meu ponto de vista está na continuidade do trabalho que é feito. Para além do valor para o espectador que é efémero, existe o valor para as empresas de publicidade (também efémero) e tudo isso é normal. O que não é normal é o valor que este programa traz aos destinatários das decorações. São pessoas que vêm a sua casa decorada ou remodelada, em troca de uma simples candidatura e umas entrevistas mal feitas, sem grande exposição ou ridicularização. Ou seja, o simples facto de as pessoas gostarem de ver algo a ser remodelado, motiva uma ajuda gratuita a quem precisa. A pergunta que advém directamente daqui é, na minha opinião, que mais se poderia fazer neste formato? Quem mais se poderia ajudar, com o patrocínio indirecto do interesse dos espectadores e do poder de divulgação da televisão? E ponho também a pergunta: Será que podemos falar de um espectador socialmente responsável? Ou seja, será que uma das motivações das pessoas para verem este programa é o facto de saberem que ajuda quem precisa?

Ficam as perguntas (sintam-se à vontade para responder), e o meu louvor a uma programa que apesar se seguir a ideia de "reality show", consegue dar um verdadeiro twist à ideia de uma forma que considero muito positiva. Aliás, na data presente, o que me motivou a escrever este post foi uma edição do programa que consistiu numa intervenção na Casa do Gaiato. Deveras positivo.

Com uma apresentadora terrível, edições exageradamente frequentes, o "Querido, mudei a casa" marcou pontos na caderneta do Carneiro.
Parabéns Queridos! (isto era escusado)

2 comments:

Inês Dias de Carvalho said...

tu sabes que também és um querido, não sabes?:p

...parece-me que também tens costela para o empreendedorismo social... hmmmmm....!!!

há um projecto de empreendedorismo social em áfrica, promovido por um professor/cientista em física de cambridge, que está relacionado com a educação e que lançou um novo repto: the next Einstein will be african. este projecto tem como objectivo travar e reverter a situação complexa e catastrófica que existe nesse continente: ignorância, fome, guerra, doença, corrupção... pessoas educadas, são pessoas com poder!

programas de remodelação... não sustentam uma mudança. apenas limpam o pó à casa e isso é pouco, dado o potencial que existe, dentro de cada pessoa intelectualizada e educada, para orientar jovens em situações extremas e carenciadas. a caridade é, a maior parte das vezes, uma ferramenta para a sustentabilidade da miséria, pois não dota os sistemas com ferramentas essenciais para a reversão do ciclo vicioso da miséria, fazendo com que este perpetue e ainda com melhores condições, descansando a alma de quem ajuda... estranho não é?

bom, era conceber um programa estrutural para remodelar a vida dos meninos da casa do gaiato. desde pequena que me faz confusão ouvir o quão coitadinhos eles são, até tive visitas de estudo até lá... como se eles fossem um museu ou algo do género: "vejam, meninos, um menino orfão!" é estupido, não é?


p.s. mas como é óbvio, eu também sou viciada no querido mudei a casa, mas devo confessar que nunca vejo o das remodelações em instituições...gosto mais daqueles dos quartos de princesa:p

Miguel Carneiro said...

Deixo o empreendedorismo social para ti, e limito-te a mandar bitaites sobre as cenas :p