A caça ao polvo não tem grande ciência. É um jogo de espera e convicção para o qual infelizmente fui perdendo talento e paciência ao longo dos anos. Na altura, era o meu destino encontrar o buraco certo. Em cada buraco que esgravatava tinha a certeza absoluta que se escondia um polvo. Conseguia vê-lo claramente através da minha imaginação e penso que isso era o que me tornava um bom apanhador de polvos. Cheguei a vir com 10 para casa num só dia.
Quando o polvo passava da minha imaginação para o meu campo de visão, começava a batalha. Atirava o gancho para o lado, e chamava-o para um mano-a-mano. Ele com tinta, eu com gritos, tentávamos confundir-nos mutuamente. Nunca percebi bem onde estão os olhos do polvo, ou mesmo se eles têm olhos, mas percebia quando o meu adversário estava distraído, lançando-lhe a mão e dando-lhe os golpes finais que não vou passar a descrever em texto, sob pena de impressionar os leitores mais sensíveis.
Realmente impressionante sobre tudo isto era que apesar de ser um enorme apreciador de polvo, e de a minha mãe ser exímia a prepará-los, os polvos que eu caçava nunca me sabiam tão bem. O meu respeito pelo adversário não me permitia saboreá-lo no prato tanto como no campo de batalha.
A massa de mexilhões do meu pai, no entanto, nunca esteve longe de espetacular...
3 comments:
E, por outro lado, "espetacular" precisa de levar o mesmo C, agora bonitinho, ali antes do T.
É pá, às vezes dá-me para isto, que fazer...
Ah, isso já é o brasileiro em mim falando, né?
Bem, agora com o novo acordo ortográfico, ainda és capaz de levar a melhor...
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