- "Fodasse....." - , disse entre a porta de casa e a do carro.
À medida que ia guiando o carro com os joelhos e procurando o seu primeiro cigarro do dia no porta-luvas, aquela luz apaziguou, animando um pouco o seu espiríto e dando espaço para as palpebras conquistarem mais uns milímetros. Uma longa fila de sonâmbulos ia-se empurrando antes do semáforo. Ele conhecia aquela recta. Demorava aproximadamente 5 vermelhos. Tentou com uma pinceladas ao de leve mentalmente planear o dia que aproximava. Olhou para o retrovisor, como que à procura da coragem. Foi interrompido pelo verde.
- "Então? Anda lá!" - buzinou
Escolheu o lugar menos impróprio para estacionar, bateu a porta do carro com convicção, estalou o pescoço com dois gestos secos, lançando os ombros para trás e procurou o número 67. Duas portas abaixo da porta azul, e como lhe tinham dito, mesmo em frente àquele cinema conhecido.
Colocou a chave na fechadura, inspirou antes de a rodar, como que à procura de uma certeza.
- "Vamos...tu consegues...já fizeste isto quantas vezes?" - assegurou à maçaneta.
O sino tocou. O dia chegou. Era agora ou nunca.
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